30 de ago. de 2007

INTERVALO




O Dudu já tem Os Sete Novos dele, e você?

29 de ago. de 2007

AS GASTROASTRONÔMICAS

farfalhe de estrelas
com pitadas do sal das nebulosas
e o molho vermelho marte
sanguíneo das auroras

as gastroastronômicas

o aroma da artrite
da rotação dos planetas
o sumo líquido de cada oceano de metano
mercúrio, prata, entropias
cachoeiras de tantos sabores e outras cosmogonias

e uma nuvem de Magalhães no céu ou no espaço
em forma de fóssil de dinossauro
cobre o olho do touro
constelação bovina
ruminando a matéria escura do infinito
carne seca da madrugada
gastroastronomia

7D.

27 de ago. de 2007

Petrópolis, agosto de 2007 (por 7A)

E quem é que precisa de maus governos se todos nós somos presidentes do universo inteiro? (Edu Planchez)

Tempos estranhos, melhor fugir daqui, tempos bonitos. (aos vencedores: o tempo) O açougue alegre está bem perto de começar. Mas como encenar o silêncio? Harold Pinter conseguiu? Selvagem como uma pergunta e um avião de areia voando ao redor dela. Tudo para não se esquecer dos ângulos irreais, o brilho mais estúpido da mesa.
Bela, a mulher horrível.
Ampulhetas na floresta do choque, não adianta nada ficar nadando aqui na tua piscina de néon e esquecer os jardins no meio (assim como quem tropeça antes mesmo de conseguir começar).
Aviões de chumbo voam na tua retina verde, a piscina escorre, escorre, escorre.......Projeção de Monica Vitti.
Veludo nas estátuas que afundam, lábios escarlate em um boxe metafísico, um hipopótamo gira com sua nave trincada entre os dentes, dilúvios de Chernobyl. O tempo sangra suas penúltimas frases, agora já sabe que toda rua do rio vai dar em Madagascar.
O infinito da piscina, narciso se jogando do vigésimo andar, e se o Rei não vier com seu navio de ervas a gente pode muito bem esperar aqui na contramão. O coral triste da janela da TV nos chama para receber uma felicidade descarrilada no meio da ruína.
As pessoas adoram dançar no escuro.
E como diria Edu Planchez só uma alma de diamantes pode reconhecer outra alma de diamantes, só fogo purifica fogo. E nossos uniformes de lama já estão bem passados para o próximo vendaval, alquimistas do asfalto revirados por caçadores cegos.
Mensagem para os presidentes do universo:
Nunca imaginar essa cortina de vazio,
Nunca imaginar esse túnel com araras dentro,
Nunca colocar terra nos bolsos,
De atropelamentos já basta o dia.
Aos vencedores o tempo,
para mim só esse tic-tac desafinado que insiste em não se extinguir.

23 de ago. de 2007

AMENORRÉIA MENTAL. (por 7D)

“Afundar-se no nada abre um esquecimento aprazível,
mas estar consciente de sua existência e, no entanto,
saber que não se é mais um ser definido distinto de outros seres,
eis o auge indizível do pavor e da agonia.”
H.P. LOVECRAFT



Amenorréia mental. Como sangue que não desce estava grávido de memórias, ainda estavam por nascer. Sentia-se estranho, um bicho. Mais tarde se a memória voltasse sentir-se-ia ornitorrinco...

Mas por que ornitorrinco, ser estranho, transmutante tão irônico?!

Foi o tempo de um piscar de olhos, não o tempo disto que chamamos, ditado popular, num-piscar-de-olhos. Foi o tempo mesmo da pálpebra superior, lustrando o olho, se chocar com a inferior e reabrir-se numa estúpida explosão surda. Foi este gesto, pestanejar (parpadear chamariam em outras terras), nada mais que este gesto que borrou todo o resquício de memória.

O que vinha a ser qualquer coisa quando a pálpebra reabriu?!

Cores e formas e sons e cheiros e tatos e era como se tudo fosse pela primeira vez, mas já em media res. Tudo a sua volta sabia o que se era... ele não. Era como estar no meio de um vento cego. Todos os sentidos captam tudo, mas nada tem significado nenhum. O vento tocava o rosto e as sensações se espalhavam pelo corpo, ar quente, ar frio, sons. O som cortante das partículas passando rapidamente ao lado do ouvido, o som dos pés batendo no chão e outras estranhas máquinas não orgânicas que tremiam o entorno fazendo o coração vacilar, quase esquecido que estava que tinha que bater. Eram cores explodindo em formas que se confundiam entre si e um farfalhar de papéis que se chocavam uns nos outros e se dispersavam por aí. Olhava para tudo e algo voltava como um espelho que vai desembaçando. Sabia que todo o algo que olhava já era alguma coisa e isso, naquele momento, era uma espécie de conforto. Poderia ter experimentado sensação ainda mais primitiva, a sensação de poder nomear todas as coisas pela primeira vez.

Sem memória se é um Deus...

Poderia ter pensado isso se lembrasse o que era memória ou Deus ou mesmo qualquer palavra. Poderia ter renomeado cada tudo e qualquer coisa, mas estava esquecido. Apático, catatônico, estático ficou. Não ter memória alguma é tão paralisante quanto ter cada segundo de vida guardado na cabeça. A primeira coisa que começou a tomar alguma forma reconhecível foi seu próprio corpo. Um momento de tomada de consciência, como um bebê que se vê no espelho no colo da mãe e percebe que é outro ser, destacado do corpo que o gerou. Para além de possível angústia reconheceu outros sentimentos. No lugar de uma possível tensão terrível que pensou dever estar sentindo se aconchegou no calor da inconsciência tranqüila. E neste reorganizar da memória sem mover-se sentiu aquele tudo que o embalava. Ele ali estátua viva esquecida embalado no caldo sangue de uma história perdida:

Gosto ferrugem lâmina de faca e penugens brancas com espasmos. Queimado cheiro forte sintético verniz. Textura álcool líquido ardente garganta fervendo no salgado tom que brota da pele castigada pela dureza do calor pedra expelindo todo o gás profano de uma rua dobrada esquina bêbada encruzilhada de ritual ácido ainda no fervilhar do medo do desconhecido.

E assim, rosnando essas sensações com a camisa manchada de sangue de uma faca que pingava o pescoço cortado de uma galinha, tropeçou no ruído de uma garrafa de vidro apoiada em velas gastas e foi despertando. Como um braço dormente que acorda, formigueiro, de uma noite de esmagamento, a memória foi voltando e uma bicicleta e um alucinado o despertaram para a verdade do que estava fazendo ali.

21 de ago. de 2007

Teaser!



Falta meu conto... mas antes um teaser do 7A!

16 de ago. de 2007

O CICLISTA UNIFORMIZADO (POR 7M)

Nove e meia da manhã, quase exatamente, é o horário em que o sol bate numa mesma e branda intensidade em toda a parte. É primavera, a segunda metade dela, quando todas as flores já foram abertas, misturadas no verde que cresce ao longo das estradas e das vielas dali. Vem a bicicleta e o barulho dos pneus da bicicleta que oscila ora no asfalto, ora na terra. Na paisagem que se estende na visão do ciclista não existem muitas árvores por perto. Os carros passam estacionados. São nove e meia da manhã no hemisfério norte, perto do oceano Pacífico. O silêncio é a bicicleta. A bicicleta respira solitária. Pois nesse horário as paixões ainda estão guardadas sob os telhados espalhados por ali. Um caminhão ao longe faz barulho. E sopra uma brisa fria de montanha com o cheiro do mar. Não é o Atlântico. O ciclista está uniformizado, mas isso não o incomoda. O calor está nos pés. Mais adiante, uma curva mais aberta se desdobra num acostamento. A direita do acostamento, uma paisagem ainda mais extensa. Ao parar ali, o ciclista é tomado por um vento mais forte. O vento ocupa o silêncio agora que a bicicleta parou. A extensão da paisagem não interessa muito ao ciclista, nem a ninguém. Não que ela não seja suficientemente sublime para não ser notada. Ela é bela talvez. Para o ciclista, e para todos, ela não importa mais do que pedalar, mais do que as vielas escolhidas para o seu caminho, ou mais do que a força do vento, ou o calor repentino que se instala debaixo do seu corretíssimo uniforme. A vista é um mesmo despropósito. O vento entra pelas frestas e resfria confortavelmente o corpo do ciclista. Nove e quarenta e cinco. Ele está ali parado, um pouco além do esperado. Não olha a vista, olha as mãos apoiadas na bicicleta e pensa silenciosamente em tudo. O silêncio agora é pensamento. O pensamento dele ocupa não só o silêncio, mas aquela vista por inteira, como uma nuvem sobre aquele vale. “É uma vista para um vale”, pensa ele surpreso. Não consegue esboçar uma visão do vale, pensa muito. Quase dez horas e as paixões ainda permanecem debaixo dos telhados. Não quer pedalar pois não existem paixões. Uma hora mais tarde e não seria diferente. Chegaria a hora de comer e comeria só a comida, na quietude dos maxilares, e ainda livre das paixões. É de manhã, ali no hemisfério norte, próximo ao Pacífico. Do caminho do ciclista não se vê o mar. Nas paredes do vale, logo no fim da camada de asfalto, flores jazem adormecidas descoladas do caule, sem mais conexões com as raízes. Cerejeiras ou azaléias. Ele coloca os pés de volta nos pedais. Precisa de mais um fôlego, perdeu-os todos ali naquele acostamento. Não os pode arranjar. Não sente mais vontade nem de ir nem de retornar. Quer ficar ali, gostaria que sua bicicleta fosse movida não mais por ele. Nem por ninguém. Também não acreditava em vôos ou em telecinese. Não acreditava nessas coisas. As paixões deveriam sair de seus esconderijos e sentir o sol morno da primavera e ele finalmente se moveria. Mas não quer. Acha que pode ficar ali, confortavelmente, para o resto da eternidade. Mas precisa comer. O estômago vazio e esta falta de medo de pôr tudo a perder fazem com que finalmente ele siga adiante no caminho pretendido. E lá, em algum lugar do caminho, teria alguma coisa para comer. A paisagem extensa fica para trás e some para sempre. A bicicleta volta a ser o alimento do silêncio. Aos poucos o ciclista uniformizado retorna ao seu estado natural, pedalando como se nunca tivesse parado por qualquer motivo.

15 de ago. de 2007

Sr. Trágico (por 7A)

Elas na selva: o shopping da caça comunitária xamanista. Tudo é por acaso, chorar levitações. O Deus-Rinoceronte do Lautréamont ou o Rinoceronte de Ionesco? O certo é que uma mulher se queima na sala do diretor, é descoberta em Madri uma creche de prostituição de inválidos chamada ´´Prosperidade``. Por onde passa o Sr. Trágico deixa sua marca.
Cerimônias sangrantes, uma comunhão de sombras, o primeiro êxtase é decisivo. Ser sufocado em rede nacional, polaróides da noite. Pedras de trovão caem do céu, de neurótico a poeta o Sr. Trágico suporta mulheres carcarejando ás 3 horas da madrugada, o Sr.Trágico conhece e repudia as vítimas dessa opressão cômica chama céu subterrâneo, ou mais erroneamente Rua dos Girassóis.
Deglutindo tudo. Não senhores, não tem champagne. Um brinde ao veneno. Vamos fotógrafos, não percam tempo. Às 00:40 o poeta beijou o livro. Esqueçam os fotógrafos, acaba de amanhecer na esquina desdentada.
A dança extática do Sr. Tragédia, os abutres (esses pássaros míticos), a proteção das trevas banais, uma tela coagulada, um safári pela PSICODÉLPHIA. De repente, de roupa nova na praia do abismo.
A norma da solidão, os três tipos de dominação legítima, o deus do momento nos intervalos religiosos. O macaco encantado: É garantido que as revelações serão possíveis em qualquer meio de esquina. Sr. Trágico: Profissão? Abandono. R.G? Deplorável. Vício ou religião? Colher cactos em todas escadas rolantes.
O Mestre do Desastre sabe que o amor é a grande neurose pós-moderna, o macaco nu. E agora já até apagaram nossos nomes de todos os muros, e agora o canibalismo já é até permitido entre os pobres, e agora essas repugnantes parafernálias.
Vermelha cidade que cheira a esgoto, bueiro da alma. Blindagem. Se eu fosse uma mulherzinha até acreditaria em todo esse pastiche racional. Entenderia a noite como uma máquina solar.......
Hoje é aniversário da máquina. O Sr. Desastre se cansa de ser um pássaro assustado e garante que o próximo abate será lindo. Se quiserem falar com ele sue telefone é tudo que esse corpo áspero enxerga, tudo que o cansaço quiser nessa arena de melodrama, tudo que der certo em tua perfeição desastrada, tudo que teu gancho encantado permitir. Sr. Tragédia: Profissão? Abandono. R.G? Deplorável. Vício ou religião? Atravessar todos os túneis da cidade a pé.
Retomando aos carros: Seres ultra-sensoriais que nos perseguem e matam. Algo está para acontecer no reino do tigre, de deserto já estamos fartos. Sairá o sol? Os pés andam sozinhos, já viu aquele guindaste que te puxa para cima? Nesse eu iria fácil!
Como é bonito procurar por girassóis em todos os bueiros da rua, mas na Rua dos Girassóis as motos correm e o Sr. Mágico cala. Na Rua dos Girassóis o coração não acompanha os elevadores, na Rua dos Girassóis qualquer tipo de som é mera consolação, as flores são calculadas, as ruínas explodem na metade da tua cara, na Rua dos Girassóis as camisas engolem os passantes, na Rua das Ilusões há uma boca gigantesca no centro da praça, em qualquer direção se ouve o grito de uma criança lançada ao céu, na Rua dos Girassóis o mesmo corpo que enguiça é o mesmo corpo que desaba no teto desse cemitério de naves. Sr. Trágico: Profissão? Abandono. R.G? Deplorável. Vício ou religião? Brindar veneno na champagne do teu mapa.
As escritas do amanhã nos ladrilhos do agora poderia ser aqui uma cidade qualquer; telefones ainda assim uivariam, fliperamas ainda gesticulariam pela tua mão que enxerga. Corpo elétrico, braço de fusível banhado no sol, satélite azul, o sentimentalismo barato de todos os orelhões.
Senhor Desastre você tomou a bala errada. E agora? Senhor Desespero você tomou oito ácidos em uma noite só. E agora? Senhor Poeira você tentou deglutir o universo. E agora? Senhor Tragédia teus dinossauros alienantes estão mais chatos do que nunca. Senhor Diogo Cruz você calculou que podia voar. E agora?
Talvez essa seja a hora de comer o teu sofá bem cru quase mal passado, talvez a barbárie una os orelhões com tua carcaça e aí sim a gravidade emocione o corpo. Na tela de escuro o asfalto é assim: O Trágico se encha de rodas e vida, o caos não lata mais. Que toda noite seja girassol, que toda máquina solar seja uma rua no girassol da tua noite, que todo beijo seja dodecafônico, que toda guerrilha seja um xadrez científico no teu mapa, que todos os túneis sejam atravessáveis no sorriso do Galã Desastre, que toda Rua seja do Girassol. Aos quatro uivos da tarde o Senhor Diogo Cruz finalmente chega em ´´casa``.

11 de ago. de 2007

PESADELO EM BRASÍLIA

E Alfred Hitchcock
acordou com
a revoada de planos-pilotos
entrando pela janela aberta.

7M

8 de ago. de 2007

mármore (para clarissa)

nossos sonhos são bustos de mármore (Rainer Maria Rilke)


toda espécie de som é mero exagero
no porão dos vencedores que você cavou para si própria.

não tenho mais dúvidas,
toda cidade é o medo da morte.

mas e se os jornais fossem narrados em forma de poesia?

você me parou a babilônia do shopping,
te trago um buquê de pedras.

um cactos nasce do mármore límpido
das tuas escadas rolantes,

a poesia é um tigre de papel.

7A.