9 de nov. de 2010

In MC we trust (por 7A)

Dia e noite o Mc Donald’s hasteia sua bandeira norte-americana, contrariando as leis de seu país original que diz que somente nas instituições nacionais a bandeira estado-unidense pode tremular depois do pôr do sol. Mas talvez seja isso, talvez o Mc Donald’s esteja para muito além de qualquer pôr do sol. Talvez este seja o descontrole controlado de seu clown onipresente. Não é à toa que Ronald é fruto da televisão. A multidão solitária clama por esta intranquilidade instantânea. A ordem é que os clientes se emocionem antes de estacionar. Esta é a ciência do hambúrguer; procure pelos seus arcos dourados. Pense na América transmutada em Iracema. Depois de meia-noite a América é Iracema de ressaca.


Luzes e cores valorizam o espanto. A cidade agora é mero pano de fundo para este laboratório de metáforas visuais. Com seus sorrisos antissépticos os atendentes te oferecem simulacros de refrigerantes. Aquários humanos se transformam em grandes avenidas de brilho e de alegria. A fúria da máquina também é saber que também precisa reluzir a todo instante, como quem sempre tivesse que soltar espasmos pulsantes na obrigação de explodir seus pontos de exclamação por onde quer que se passe. Fundos luminosos defendem que o sucesso está no excesso. De que o ketchup utilizado pela empresa poderiam encher o lago Michigan, de que os bilhões de hambúrgueres vendidos poderiam cobrir por várias e várias vezes a distância da Terra à Lua. Este é o real sem avesso, de deriva em deriva; até os ossos. Para os americanos estar na imagem é existir. O país Marlboro está no ar. Que Deus salve a América e a torta de maça.


4 de nov. de 2010

LANÇAMENTO ANTOLOGIA PLÁSTICO BOLHA!



A partir das 19:30h Livraria Ponte de Tábuas Rua Jardim Botânico, 585 (esquina com a J.J. Seabra)



11 de set. de 2010

this is love

20 de ago. de 2010

Eleições 2010

Começa a cobertura poética delirante das eleições 2010!
Mas talvez isso resuma tudo.

5 de ago. de 2010


25 de jul. de 2010

Há 6 anos 2 últimos minutos eternos. (por 7D)

No dia 25 de Julho de 2004 eu vi 2 minutos serem mais que 120 segundos. O bom da Copa América é que parece uma libertadores de seleções, tem papel no gramado, montinho artilheiro, buraco na grama, alambrado, torcidas enlouquecidas e você pode assistir o jogo de pé. São os 10 sul-americanos e mais 2 convidados. Normalmente México e EUA completam o time de 12, mas até o Japão já jogou uma o que poderia elevar a um status de mundialito a mais antiga competição entre seleções nacionais do mundo.

El llanto:


Naquele 25 de julho o Brasil chegou à final com um time considerado série B, sem as principais estrelas, contra uma Argentina cheia de Tevez, Riquelme, Sorin, que vinha voando baixo em toda a competição. O jogo da final foi duro, mas a Argentina dominava, tinha mais chances, era mais criativa com os passes de primeira do imarcável Juan Román Riquelme. 45 e 30 do primeiro tempo 1x0 Argentina, falta na entrada da área, bola levantada, Luizão de cabeça. O juiz apitou logo após o gol de empate e aquele último minuto durou pelo menos 15 para os argentinos até todo mundo voltar pro segundo tempo.

La copa:

O jogo seguiu tenso com a Argentina melhor, aos 42 imprimiu-se o 2x1 no placar. O Brasil atônito em campo e o Tevez perde a bola na lateral batendo bolinha na frente de um brasileiro. Mas parecia não fazer diferença, os argentinos já comemoravam 47 e 30 do segundo tempo. O locutor argentino dizia: “Se acabó, Argentina esta a un par de minutos de recuperar la copa América”. O Galvão Bueno dizia: “O Brasil não levou o time principal, o técnico tentou salvar o cargo, e perde num jogo por dois a um...” Mas aí o Diego levantou aquela bola na área e o Galvão berrou “... pode até empatar, capricha Adriano”. E o Adriano caprichou, deu uma puxadinha de esquerda e bateu seco no canto esquerdo do Abondanzieri. Saiu louco tirando a camisa em brasa rodopiando pelos ares. O locutor argentino só conseguiu concluir “Me quiero matar, Adriano y vamos a penales”.

Los campeones:

O resto é história. Aqueles últimos minutos reverberam até hoje em todas as Américas, a taça veio pro Brasil e o silêncio dos argentinos a cada pênalti perdido nós escutamos até hoje. Naranjo en flor x O Sol nascerá! O nosso sol é a camisa amarela inteira em brasa Brasil, tropicalismos transcendentais de sóis sangrentos! Nunca me esquecerei da cara de desespero do cabeludo Sorín com aquela camisa de listras verticais que são como lágrimas azuis que rolam, e da felicidade no sorriso do ainda garoto, imperador sem trono, Adriano. Todos os matemáticos erraram, 2 minutos são eternos, o todo é sempre maior que a soma de todas as partes!

Narração do Galvão:


Narração argentina:


Naranjo en flor:



O sol nascerá: (Ah! Sorín! Eu pretendo levar...)




16 de jul. de 2010

MARACANAZO (por 7D)

Brasil


Uruguai


O gol



Hoje acordei com uma tristeza e não sabia o que era. Choviam lágrimas. E uma pergunta me veio em castellano: Pero que pasa? De onde vem tanta água, tanta tristeza? Olhei o calendário, 16 de julho de 2010. 16 de julho, essa data é uma eterna ferida. Hoje o maracanazo completou 60 anos, 60 anos de uma tristeza que tem o dobro da minha idade, o dobro do tamanho do Brasil. Mas 16 de julho não é um dia de culpados. Não é culpa dos políticos que sabatinaram os jogadores no dia anterior para saírem nos jornais já ao lado dos campeões, não é culpa do técnico Flávio que impôs na manhã do jogo uma missa de duas horas que todos assistiram de pé. Não é culpa de Juvenal, Augusto, Bauer, Friaça, Danilo, Bigode, Chico, Zizinho, Jair, Ademir e principalmente não é culpa sua Barbosa. Barbosa, eu te perdôo com os olhos cheios de lágrimas e com as mãos vazias dessa bola que te escapou. Hoje é dia para um herói, o único homem vivo dos 22 que estavam em campo naquela tarde. Hoje é dia de Alcides Ghiggia. O gol foi seu, 2x1 fatal.

Jules Rimet, o eterno presidente da FIFA, escreveu em suas memórias
"Ao término do jogo, eu deveria entregar a Copa ao capitão do time vencedor. Uma vistosa guarda de honra se formaria desde a entrada do campo até o centro do gramado, onde estaria me esperando, alinhada, a equipe vencedora (naturalmente, a do Brasil). Depois que o público houvesse cantado o hino nacional, eu teria procedido a solene entrega do troféu. Faltando poucos minutos para terminar a partida (estava 1 a 1 e ao Brasil bastava apenas o empate), deixei meu lugar na tribuna de honra e, já preparando os microfones, me dirigi aos vestiários, ensurdecido com a gritaria da multidão. (...). Eu seguia pelo túnel, em direção ao campo. A saída do túnel, um silêncio desolador havia tomado o lugar de todo aquele júbilo. Não havia guarda de honra, nem hino nacional, nem entrega solene. Achei-me sozinho, no meio da multidão, empurrado para todos os lados, com a Copa debaixo do braço."

O presidente da FIFA sozinho, com a taça debaixo do braço empurrado pelo silêncio universal daquela derrota. Os uruguaios comemoravam mesmo contaminados por 200.000 tristezas. “Assim é o esporte”, foi a única coisa que conseguiu dizer o técnico Flavio depois da derrota. Dali pra frente tudo mudou, a camisa branca foi aposentada dando origem a amarelinha. Mas na final de 1958 levamos a Jules Rimet com a camisa azul do manto de Nossa Senhora Aparecida costurada a mão. 1962, 1970 e a Jules Rimet é eternamente nossa! Pelé e Garrincha nunca perderam jogando juntos pela seleção. Em 1994 mais um título com Romário o gênio da grande área, em 2002 outro, no Japão, com o Fenômeno marcando 8 gols fenomenais. O Brasil jogou todos os mundiais. É o time que mais venceu, que mais marcou gols, que mais encantou. Se os ingleses inventaram o futebol os brasileiros o aperfeiçoaram. Fizemos o futebol virar o ópio dos deuses como diz meu primo Augusto. Mas mesmo assim nunca mais seremos campeões mundiais de 1950.

Em outubro do ano passado morreu o zagueiro brasileiro Juvenal Amarijo e Ghihhia passou a ser o último sobrevivente de 1950. Tem 86 anos, vive em Las Piedras no Uruguai casado com uma mulher 40 anos mais nova que ele. Os deuses do futebol não o castigaram, ele foi embalado por eles como herói, e assim merece ser. Eu te felicito Ghiggia, com a dor de 200.000 lágrimas te felicito. Um dia desses ele disse: “Três pessoas silenciaram o maracanã, o Papa, Frank Sinatra e eu”. Hoje, sessenta anos depois, eu ainda ouço esse silêncio.