17 de mar. de 2009

PARA UM ENCONTRO DE ZÉ CELSO COM SALVADOR DALI (POR 7A)















As leves plumagens das belezas atrofiadas falam diretamente com o caos erótico de nossa ansiedade. As piscinas de plástico com borda de papelão serão devoradas pelos últimos inocentes da solenidade nesse teatro de colagens. Os poetas com suas filmadoras registram. Com os órgãos de vôo ao contrário na clareira das estruturas. Imagine o encontro de Zé Celso com Salvador Dali.

Cada um morre em seu pequeno estacionamento, cada um agüenta a primavera que pode. As flores não esperam pelos nomes para existirem, ninguém precisa nomeá-las. Cava-se a terra com saliva e suor. Em cada semente Zé Celso morre e renasce para confrontar silenciosamente as cidades invadidas. André Breton ergue os trapos de Babel e os transforma em belos parangolés nos aquários alquímicos. Feiticeiros infantis ruminam na realidade lindamente feia de miséria. Bispo Sardinho é eletrificado nas guitarras dos amplificadores do sagrado. O engarrafamento desencontrado chora, incendeiam-se os relógios. Os poetas filmam.

Enquanto os marqueses tecnocráticos benzem Brasília, os sorrisos na jaula são abundantes, ´´a jaula nunca esteve tão fechada, apesar dos sorrisos``. A violência do parto nos devora nessa televisão amaldiçoada. Teatros mágicos explodem e se iluminam na macumba de Antonin Artaud. Os doutores Paulo Maluf e a fabulosa Elke Maravilha fazem estrago no coro das Bacantes.
Imagina o encontro de Zé Celso com Salvador Dali?

A cada parede que cai, todos investem na agonia e o florescer de paredes vai ficando longe, longe...Todo dia é primavera. Todo dia é primavera na apoteose de giletes do catedrático Silvio Santos de Pindorama. Alegrias programadas no candomblé grego, a hipnose divina da multidão.As grades do carnaval. Os abutres estão vindo. Na vitrine da TV a ópera do sambódromo é assistida durante os intervalos comerciais. A cultura de enfeites coloca bananas em seu presépio. As bananas de Andy Wahrol entupiram a garganta de Carmen Miranda. E quando o Brasil vai finalmente brindar cicuta?

O totem orgânico dos índios paulistas confirma: "engole o peixe com a espinha / e tocarás a guelra de Deus". O coro da tribo faminta das macacas de auditório exibe sua mandala curandeira de choques elétricos, tudo se esclarece em um ringue de boxe. Todo apartamento é um happening diário, respira-se no centro dos edifícios e vive-se pelos pulsos urbanos. A rua já é teatro, o teatro vai virar rua. A orgia da televisão recria o ritual e restaura mitos: Tecle a tecla SAP do Surrealismo Tropical e retire a guelrla entranhada nas vísceras da poesia menos de João Cabral. João Cabral veste Hélio Oiticica. Imagine o encontro de Zé Celso com Salvador Dali.

Já que o estacionamento é o teatro grego natural, o beco sem saída da Rua Canudos cintila. Qual o Messias que não bebe? Enquanto as bacantes devoram Penteu, a Grécia carnavalesca é vendida no ´´trans-shopping`` , o universo come Oswald em exportação interplanetária e Oswald devora a todos nós. Na tarde em que todo tabu vira totem. As rajadas de dólares da guitarra de Hendrix ecoam no eterno do presente. E quem já esqueceu New Orleans?

Os românticos traumatizados sabem que o cimento cura. O cimento cura a dor, basta cimentar. Somente os oceanos luminosos não se permitem cimentar.
As flores não esperam pelos nomes. O grande segredo é verticalizar. A localização poética soterra a localização geográfica, a localização poética sufoca a localização cientifica. Imagine o encontro de Zé Celso com Salvador Dali.

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