29 de set. de 2007

Subúrbios e Paralelas

Em um trem noroeste de Buenos Aires. Supervia ali Maracanã, Engenho de Dentro. Aqui muito longe do Monumental ou da Bombonera. A paisagem lá fora são luzes que passam correndo, é madrugada. A paisagem é a escuridão que se extende no ruído cavalgante do trem e nos risos gritados de uma criança. A janela é uma tela vazia através dela a paisagem que se queira entre as penumbras e sombras da noite que é sempre negra em qualquer parte. Eu continuando com Kerouac na cabeça e os Subterrâneos de São Francisco vejo paisagens de letreiros de neon e Cadilacs rabos de peixe com loiras de falsos cabelos esvoaçantes. One mad brunette at the bar! As vozes que me chegam transformam essas imagens! O livro não tem pontuação e flui como locomotiva sobre os trilhos das palavras. Assim segue a minha imaginação raivosa e desembestada como a fumaça que voa do meu chocolate quente que treme se desmanchando apoiado na janela. No vidro embaçado imagens de uma San Francisco que não conheço e a trilha sonora em espanhol ou mais bem em argentino. O trem pára em uma estação de ladrillos azuis. Não encontro seu nome. Carolina me espera em Martin Coronado (será que passei por ela?). Eu num trem Los Angeles, San Francisco, Buenos Aires, Rio de Janeiro. Antes das portas fecharem entra um bêbado, barbas grandes, roupa suja, trapos rasgados por cima do corpo, lutando contra o frio. O trem vazio ele senta no verde puído do chão! Não se acha digno dos bancos também verdes estofados. A porta entre os vagões se abre com um peruano gordinho que carrega um som tocando música folclórica da Bolivia. 4 Pesos o CD pirata! Bicicletas balançam compassadas com as cabeças dos adolescentes melancólicos debaixo do cartaz do desaparecido Julio Lopez. Eu demorei a ver o Julio Lopez. Vi primeiro a cifra de $1.000.000 pela recompensa. O que eu faria com um milhão de pesos? Provavelmente desapareceria! Até porque ligar para o 0800 e dizer “Oi! Eu vi o Julio Lopez por aquí!” é pedir para se encontrar com ele em algum porão perdido dessa triste nostalgia latino-americana ditadura militar. Eu aqui primeira geração da democracia, eu que não vivi a repressão ideológica vivo outras panaméricas! E todos neste trem somos desaparecidos nessa noite fria… Eu Carioca salto os olhos a cada ruído, a cada parada, a cada porta que se abre, sempre na paranóia da violencia dos trens da Supervia com seu cheiro de pólvora queimada e sangue coagulado. Um carro bate contra a cancela de proteção de um cruzamento o apito do trem ressoa forte! Carolina me espera, acho que perdi a estação… Por quantas já passamos? Sigo as paralelas de ferro dos trilhos gelados dos subúrbios de Buenos Aires, temendo uma nevasca mortal que em uma história antiga foi lançada sobre a cidade por mãos alienígenas. Sigo as paralelas. As paralelas se encontram no infinito… Lá estará me esperando Carolina…
7D.

2 comentários:

Cecília Borges disse...

sensações preenchendo.
o que vem de dentro pro que está janela afora.
bjo.

Anônimo disse...

Bom conto-poema primo, meio fantástico e meio real.....e como não pensar no CORTÁZAR, o rei dos metrôs........sempre na espera da rainha de sabá que viria rompendo a escuridão do túnel no mais perfeito jogo subterrâneo......EVOÉ CORTÁZAR!!!