Naquela tarde ensolarada de junho depois da praia e de um belo almoço, fiquei ouvindo meu mestre, Nat K. Cole. Reinava calma absoluta, ou quase, no condomínio dos jornalistas no Leblon, onde eu morava.
Brasil e Áustria, no estadinho de Uddevala, na Suécia.
Nas Rádios, vibrantes como sempre, locutores lendários disputavam a audiência. Meu predileto na época era Oduwaldo Cozzi, lembro que um dos patrocinadores das transmissões era um político, tido como das mais corruptos, Ademar de Barros;
Para frente e para o Alto, o Brasil com Ademar! O slogan fascista animava a torcida.
O jogo começa sem graça, mas o domínio brasileiro é completo. O desenho tático mantinha 3 zagueiros bem atrás, um quarto zagueiro, roubado aos meias que a princípio fazia a cabeça de área, depois foi-se fixando como central pela esquerda. Todos com funções expressamente defensivas, nada de subir pra cabecear em córner. Dois meias de ligação responsáveis por armar os ataques, como os levantadores no vôlei. E os 4 atacantes, dois pontas, o centro-avante, necessariamente, valente e lutador além de oportunista, e um ponta de lança, mais habilidoso e também responsável pelos gols da equipe.
A Áustria era uma grande seleção. Tinha ido muito bem em 54, melhor do que nós. Muita gente acreditava que não passaríamos pras oitavas. Estávamos no grupo da morte junto com a Rússia, uma das favoritas, campeã olímpica dois anos antes e a sempre temida Inglaterra, ainda abalada com o desastre de avião que vitimou vários jogadores do Manchester United e da seleção.
Pimba! Gol de Mazola!
Mesmo preocupado em não se machucar, o centro-avante com contrato assinado com um time italiano, não teve dificuldade em abrir o placar ainda no primeiro tempo.
Começa o segundo e vem logo o lance que hoje podemos ver como prenúncio de bons ventos pro nosso time no torneio. O célebre gol de Nilton Santos, que sai da defesa driblando todo mundo até a área austríaca e, com um leve toque sobre o goleiro, faz dois a zero praticamente decidindo a fatura. No finzinho, Mazola ainda mete o terceiro.
Estréia de luxo.
Se na bola a vitória foi indiscutível e animadora, na pancadaria nos demos pior. Saímos com duas baixas: Dida e Dino Sani.
E o próximo jogo prometia mais dureza: a Inglaterra.
Desci pra comemorar a vitória com a galerinha do prédio. Nada de gritos, fogos nem batucadas. Atravessamos a rua e fomos ali no outro quarteirão tomar sorvete no entreposto da Kibon e curtir aquele fim de tarde gostoso sentindo cheirinho de mar
Cozzi, grande radialista, meu locutor preferido, manteve no ar um programa semanal de TV mostrando todo trabalho feito pela CBD antes da Copa de 58. Antenado (com trocadilho).
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