12 de jul. de 2010

Futebol e o Fígado (por 7D)

Cidades vazias são o que restam agora que tudo é silêncio. As vuvuzelas calaram. A Copa do Mundo na África termina com oito tentáculos. O polvo, o molusco profeta que pintou cores muito mais vivas com sua camuflagem cromatófora do que os descendentes de Picasso e Van Gogh que fizeram a estranha e inédita final Européia nesse 2010. Todo oráculo tem seu dia de mãe Dinah, mas o polvo, profeta com sua desengonçada cabeça balançante, teve oito dias de glória. Ele tinha 01 chance em 864 de acertar oito jogos e acertou. Pra que tanta ciência se o polvo, com seus tentáculos sensoriais, antenas que captam tudo, sabe o que nenhuma calculadora atômica pode calcular? Todos os búzios são gravadores de polvos. Os ifás estavam certos. Nas encruzilhadas das madrugadas veremos polvos e não mais galinhas junto das cachaças e das velas. Nunca mais um polvo entrará numa paella. Todo pai de santo é um polvo amordaçado. Mais uma copa, um novo oráculo.

Por aqui tudo se foi mais cedo. Mas o futebol é como o fígado, a eterna esperança, a eterna ressurreição. Futebol não é tática nem técnica, futebol é o fígado na ponta da chuteira. Este fígado que para os gregos era o órgão do amor, era ali que Eros cravava suas flechas apaixonadas. É o fígado quem bebe o vinho de Dionísio. O fígado chuteira invisível. Naquele tempo, comer um fígado vivo era alimentar o amor. O amor que sempre morre para nascer de novo. O amor que se regenera toda manhã depois de ser comido por uma águia. O futebol é essa esperança que se regenera a cada ataque frustrado, em cada bola que não entra, em cada mão de Deus que muda todos os destinos. Toda vez que você se levanta da arquibancada, arrebatado de emoção e volta a se sentar frustrado, você é um fígado se regenerando de amores. Tudo como os tentáculos de um polvo oráculo que crescem de novo depois de serem cortados. Este mundo, grande cauda de lagartixa inominável. As derrotas épicas deixam cicatrizes profundas nos tentáculos regenerados, eu sei que a dor no seu peito ainda há, mas é dessa dor que nasce todo amor por essas camisas que correm sozinhas. Não a dor do sofrimento católico, mas outra dor, interrupção que gera uma prorrogação de vontades.

Daqui pra frente são mais quatro anos dessa águia voltando para nos mastigar toda manhã. Mas o meu fígado tentacular, oracular, é como um polvo que se regenera. Mais quatro anos, quatro décadas, quatro eternidades. Nos vemos, aqui no Brasil, em 2014. Eu quero ver quando Zumbi chegar.

Zumbi...


...e o Polvo


2 comentários:

Anônimo disse...

Zumbi deveria ser o nome da bola da próxima copa. Jabulani é o caralho, rs.

Anônimo disse...

Salve Zumbi!
7A